14 de março de 2013

Carta de amor para um cão

Eu lembro como se fosse ontem, você chegando em casa. Era pequena e desajeitada. Mal sabia andar e tropeçava nas próprias patinhas. Na primeira noite, tive medo de te deixar sozinha no quintal da casa, mas era preciso. Você precisava aprender a ser um cão de guarda.
Drica. Esse foi o nome que eu escolhi para aquela boxer miúda e magra. Drica era o filhote mais feio da ninhada, e a princípio não era o cão que eu tinha escolhido. Foi você que me escolheu quando colocou aqueles olhinhos de jabuticaba em cima de mim. Escolhi você e pedindo licença te tirei da sua mãe, que se chamava Mala.
Eu tinha 11 anos e era uma criança. Você tinha 40 dias e era o meu primeiro cachorro. Foi com muita resistência e chororô que eu consegui convencer a mãe que eu queria você, que precisávamos de um cachorro. Realmente, era o que faltava na nossa casa.
E o tempo foi passando. A primeira vez que viajamos você não comeu. Ficou aqueles sete dias sem comer e quando voltamos, era um filhote de pele e osso. Pouco a pouco seu peso foi voltando e de fato, voltou com força. Você ficou obesa. Era uma rolha canina.
Drica, você não sabe quantas vezes eu chorei por sua causa. Suas peripécias como jardineira deixavam a mãe louca, ela dizia: Eu vou dar essa cachorra. Quantas vezes tive que limpar a terra e as plantas espalhadas pelo quintal, antes de ir pra escola. Eu chorava e mais uma vez tive medo. Medo de te perder.
Mas o tempo, ah, o tempo. O tempo passou e você aprendeu a se comportar. Pelo menos as plantas ficaram a salvas. Já os tapetes... Gorda, você tinha tanta vida, tanta alegria em si. Queria ter gravado tudo, pra te mostrar hoje. Você esteve do meu lado quando as coisas mais importantes da minha vida aconteceram.
São doze anos de uma relação intensa. Doze anos de amor. Doze anos de toco de rabo abanando. Doze anos de espirros e babas. E hoje eu sofro. Sofro por ver você levantando devagar, com dificuldade pra se locomover. Eu sofro em saber que um câncer toma conta do seu frágil corpo de cão idoso.
Drica, eu sofro em saber que os cães não duram pra sempre. Eu sofro tentando entender porque o papai do céu leva da gente as pessoas mais importantes da nossa vida, porque pra mim, você é uma pessoa, é uma irmã.
Queria muito que você pudesse ler, mas sei que você sente todo o meu amor por você quando eu te abraço, quando sento no chão pra te incentivar a comer, quando dou um beijo de boa noite na sua testa. Ê gorda, a idade chega pra todo mundo né? Chega de forma avassaladora nos cães. Mas infelizmente não posso lutar contra o tempo e as vontades divinas. A sua hora está breve, pode ser amanhã, pode ser mês que vem, ano que vem, daqui 5 anos. Não sei. Só sei que enquanto você tiver me recebendo em casa com aquela alegria, eu vou estar com o coração calmo.

Desejo a todo mundo ter um cão como você. Só assim as pessoas vão entender o que é dar sem receber, amar sem esperar nada em troca. Só assim as pessoas vão entender que um cachorro tem coração.
Obrigada por fazer parte da minha vida. E por favor, fica mais, tem Pedigree de sachê sabor Frango ao Molho misturado com aquela ração de cachorro sênior, eu sei que você gosta desse ‘papá’.
Tem Madalena pra cheirar sua orelha e bagunçar seu cotidiano.
Eu te amo,
Mariana. 


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