27 de janeiro de 2013

Sem título.


Ontem à noite, sábado, eu assistia a uma entrevista do jornalista mito-mor Heródoto Barbeiro no programa Cartão de Visita da Record News. Como todo bom foca (o recém chegado na profissão, em “jornalistês), eu ouvi atentamente aquelas palavras que ecoavam pela televisão. De repente, uma pergunta muito interessante se fez mais relevante quando a resposta foi dada. A pergunta: O que o novo jornalista precisa ter? A resposta: Amor ao jornalismo, preocupação em um jornalismo correto e ético.
Até aí nenhuma novidade. Dormi matutando “Ética, ética, ética...”. Domingo, no café da manhã, ainda sonolenta, uma manchete nem se fez perceber “Incêndio em boate na cidade de Santa Maria, Rio Grande do Sul...”. Meia hora depois a ficha despenca com o peso de uma bigorna. Por uma fração de segundos todo o meu corpo parou.
Centenas de pessoas morreram. Não é um dado estatístico mensal, é um acidente que matou mais de 200 pessoas em UM DIA. Isso não choca você? Isso me deixa assustada.
Durante todo o domingo um turbilhão de novos detalhes sobre a tragédia chegava pela televisão. Enquanto ouvia cada notícia a voz de Heródoto Barbeiro ecoava em minha mente “Jornalismo ético”. Cada entrevista de um sobrevivente era como uma agulha entrando no meu peito. E a cada palavra pesada dita, era como um soco no estômago.
As pessoas precisam mesmo ver tanta desgraça? Sentir tanta dor? Até onde o jornalista deve ir pra passar a informação? Sensacionalismo não é legal e quando se trata de MORTE é preciso cautela nas palavras, pois estas soam quase sempre como apelativas.
Vi hoje um punhado de feitos jornalísticos que EU como jornalista me recusaria a fazer. Eu perderia o emprego, mas não levaria essa sensação de “pancada na cara” ao público insaciável de informações. As pessoas QUEREM SIM saber o que aconteceu. Mas não precisam ver fotos e vídeos de corpos no chão, de mães desesperadas soluçando a morte de seus filhos. (Eu imagino que seja assim. Me corrijam se estiver errada)
São imagens fortes, desnecessárias (a meu ver). É uma vida que se foi, uma viagem louca pela terra que foi interrompida, um sonho universitário abruptamente dissolvido no ar. A mídia trata a imagem como lugar comum e se esquece do velho ditado de que Uma imagem vale mais do que mil palavras.
Não sei vocês, mas eu não vou ter forças mentais para deitar a cabeça no travesseiro sabendo que os canais midiáticos estão se atropelando como cavalos de corrida em busca de um pódio chamado ibope, enquanto o jornalismo ético é um cavalo manco esquecido no estábulo.
Espero que todos tenham entendido o meu ponto de vista, falho, míope, porém, MEU. O modo de ver de uma quase jornalista...

Hoje não tem música, tem reflexão. 

2 comentários:

  1. Eu penso como você, Mariana. Assistindo às reportagens do Fantástico na cobertura desse caso, percebi justamente o que você disse: as pessoas precisam mesmo ver tanta desgraça? É algo gritante para nossos olhos, machuca, deixa marcas. Muito bom o texto! Compartilho do mesmo sentimento.

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  2. Sensacionalismo em busca de ibope!! Infelizmente é o que mais vende no brasil...

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