Crise de idade nenhuma

É chegada à hora de virar gente grande e assumir de fato todas as responsabilidades e fardos da vida apressada e sem graça que todo adulto leva. Definitivamente, estou em crise aos 22 anos. Repito: VINTE E DOIS ANOS DE VIDA.

Quanta bobagem! Quem entra em crise tão jovem? Os afobados, diria minha mãe. E como eu sou do tipo que sofre por antecedência tendo ataques de loucura me dou o direito de estar em crise sustentando os vinte e dois anos mais bem vividos do mundo.

  Não ser adulto tem lá o seu lado bom. Você pode quebrar a cara quantas vezes você permitir, não tem problema, você recomeça. Está livre para deixar as obrigações pra depois, você não depende delas pra manter-se vivo. E os amores? Deixe-os ir e vir, são tantos, e passageiros. Errar e voltar atrás também estão permitidos, você é jovem e tem tempo de consertar tudo. O lado ruim é só um: você vai envelhecer. Então aproveite enquanto pode viver de deslizes e decepções.

Tive crise aos quinze. Aos dezesseis, dezessete, dezoito, dezenove, vinte, vinte e um. Uma coisa é sabida o que me apavorava na adolescência com absoluta certeza não me apavora na vida adulta. Aliás, o que me apavora é essa palavra: ADULTO. As crises dos 15 anos, a coisa de ser rebelde, odiar o mundo, pintar o cabelo, consumir bebida alcoólica, querer usar roupas masculinas... Quem me dera essas ainda fossem minhas preocupações!

Minhas preocupações não me permitem ficar desistindo e tentando, ou é ou não é. Não dá pra ficar pensando na vida enquanto o mundo louco está passando lá fora, preciso correr. As oportunidades que surgem? Haja braços pra agarrar todas! Estou proibida de me envolver com pessoas que não me dão futuro e tenho que admitir, me coloco em primeiro lugar. Amigos, amigos e negócios a parte. Não é a toa que eu troco qualquer festa pra ficar em casa, lendo, articulando minhas ideias e ideais.

Aqueles 10 meses de vida intensamente adulta me faz falta. Na verdade o que mais faz falta é a sensação de utilidade. Ser útil ao mundo. Sou um adulto incompleto movido pela paixão de viver. Sou uma menina em crise existencial na casca de uma adulta forte. Se é que pessoas jovens tem o direito de carregar o fardo de uma CRISE EXISTENCIAL em tão pouco tempo de existência.