Velhice de quatro patas

Os olhos já não têm o brilho limpo de anos atrás. Os pêlos castanhos reluzentes como mel agora dão espaço a pêlos brancos que tímidos vão aparecendo. Os dentes caem um a um. O andar é dolorido e calmo. O tempo, gasto com brincadeiras, pulos e latidos, é preenchido com sonecas e longos banhos de sol.

A idade chega para todos, inclusive para os cães e ter um cão idoso em casa é como uma bomba relógio pronta para explodir. Nunca se sabe o dia de amanhã e como seu cachorro vai acordar, se vai sentir dor no quadril ou se vai perder mais um dente.

Nestas férias pude ver e sentir de perto as emoções da melhor idade em quatro patas. Há onze anos ( a serem completos dia 1 de setembro) tenho uma cadela da raça boxer chamada Drica e inevitavelmente venho reparando em como ela está idosa.

Meu coração fica apertado de pensar que um dia ela possa partir e antes que isso aconteça de fato, quero prestar uma homenagem ao cachorro que despertou em mim um sentimento materno.

A idade chega os dentes caem

Desde muito pequena sempre foi o mimo de casa. Destruiu os vasos de plantas que a minha mãe tinha, rasgou todos os tapetes que estiveram ao seu alcance e mastigou todos os chinelos Havaianas que ficavam de bobeira pelo quintal. Perdi as contas de quantas vezes acordei, abri a porta e quase acreditei que um furacão tinha feito aquela bagunça toda. Ela era terrível.

Minha mãe sempre dizia que ia levar ela embora. Eu chorava e ficava horas abraçada com ela aos prantos falando: A mãe vai levar você embora, não faça mais isso!

Dizem que cães entendem a gente. Eu tenho certeza disso. Esses anos todos foram muito significativos para mim. Em momentos muito importantes da minha vida ela estava lá abandando o toco de rabo e rebolando. Quando algo me fazia triste um simples olhar canino já tinha todo afeto que eu precisava naquele momento.

A Drica teve a doença do carrapato e uma úlcera no olho. Ela tem problemas cardíacos que a impedem de passear por muito tempo além de não poder passar por grandes emoções. Ela dorme mais de 12 horas por dia, come ração fácil de ser mastigada e é tarada por pão. É o único cachorro no mundo que você pede licença e ela vai para a cama dela.

Meus pais contam que TODOS OS DIAS de manhã ela vai até o meu quarto e cheira a minha cama. Quando estou em casa acordo com espirros, lambidas e um focinho gelado encostando-se ao meu rosto querendo me dizer: Mãe acorda e vem fazer um cafuné!

Amem seus animais de estimação até o último dia da vida deles. Como nós que vamos ficando idosos e limitados eles também ficam e necessitam de atenção e carinho em dobro. Se Deus permitir a Drica vai viver mais alguns anos trazendo felicidade até ir para o céu dos cachorros.